Na última segunda-feira (11), recebemos diretores, coordenadores e professores de escolas parceiras para a formação “Organização de espaços que integram o corpo, as artes e os elementos da natureza”, com nossa educadora Roberta Mráz. Os presentes tiveram a oportunidade de refletir sobre como explorar estratégias de organização dos espaços de maneira a torná-los potentes para a interação entre crianças, arte e natureza, e ainda sobre a escolha dos espaços, seleção e disposição de materiais e ambientação.
“Organização de espaços que integram o corpo, as artes e os elementos da natureza”, por Roberta Mráz
Quando falamos em organizar um espaço, precisamos também pensar qual material escolhemos e como iremos dispor, pensando na relação com a matéria e o que quero propor no que é vivido. Assim, escolhemos trazer para o ambiente a madeira em diferentes estados: carvão, lenha, serragem, gravetos, tocos de madeira em diferentes formatos, além, de sementes coletadas em parques e praças e ruas do entorno da escola, aliás, discordo de quem diz que São Paulo é cinza, pois, mesmo estando na região da Avenida paulista, basta prestarmos atenção, olharmos pra baixo, sentir o vento, olhar pro céu e conseguimos sim, apreciar muita natureza, sem contar as árvores que agora nos encantam com diferentes cores.
Os materiais estavam dispostos em esteiras de palha acomodados em cestas e esteiras da mesma matéria. Pensar no espaço que acolhe, que convida, que provoca a ter boas experiências com o material que se oferece, uma ambientação para o novo, que favoreça a criação. Acreditamos nesse envolvimento em viver o que é vivido pelas crianças, por isso a relação da vivência de hoje com o espaço, a organização dos ambientes e qual a proposição que as crianças viverão. Precisamos pensar em todo esse contexto.
Escolhemos falar sobre a natureza porque vivemos em um mundo altamente tecnológico, o digital está extremamente presente na rotina das crianças, cada vez mais cedo, e sabemos dos prejuízos desse excesso, sendo nomeado por Richard Louv, autor do livro “A última criança na natureza”, de Transtorno de Déficit de Natureza.
Nós, como educadores e conhecedores dessa realidade, precisamos garantir que as crianças tenham experiências direta com a natureza. Rita Mendonça, bióloga e socióloga, ressalta que “A criança é a natureza que está se humanizando”. Por vezes não temos a oportunidade espaço verde em abundância nas escolas e é por esse motivo que devemos garantir que as crianças possam sentir, se relacionar com os elementos naturais, permitindo a conexão com a natureza. Jorge La Rossa traduz como podemos relacionar essa vivência com a natureza: “A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca”.
A conexão da criança com a natureza, precisa ser um encontro feliz, com afetividade, com manuseio, com experiência, por meio de um contato direto. Olhar curioso, que lhe permita tempo para poder interagir com esse meio ambiente de forma espontânea para criar suas próprias brincadeiras, explorar, se arriscar. Para a criança conhecer seus próprios limites, ter liberdade para que possa estar na natureza através de sua imaginação propondo que os elementos naturais dialoguem com a alma imaginativa dela, que é algo que acontece tão diretamente.
O contato com a natureza nos reconcilia com nosso ser. Nosso corpo fica mais vivo e somos chamados a restaurar a natureza que existe em nós e nos lugares em que vivemos. Quando propomos às crianças o “Desemparedamento”, conforme Lea Tiriba, que é o saírem para o lado de fora, elas ficam felizes, dá aquela sensação de liberdade, tanto para nós adultos quanto para as crianças. Liberdade, o que será que significa essa liberdade? Voltar para aquele ambiente de onde nós saímos, fonte original de vida com a qual a gente se identifica. Traz também a percepção de que quando a gente está fechado entre quatro paredes, não temos liberdade, só a da imaginação, mas a imaginação por meio da natureza é muito mais viva, muito mais pulsante, muito mais forte.
A natureza está presente como tema de muitas conversas e propostas artísticas, como observar o céu e suas cores, ouvir os sons da natureza, sentir aromas e provar sabores, sentir as texturas naturais, investigar as diferentes moradias dos animais e construir suas versões da casa do tatu, do formigueiro, o ninho do João de barro, experimentar composições, novas sensações entre outros.
As vivências com a natureza proporcionaram experiências estéticas e poéticas. O acesso à natureza possibilitou o aumento do autocontrole e uma vivência coletiva mais harmônica. As crianças que brincaram em espaços abertos e ambientes naturais se mostraram envolvidas, ativas e ao mesmo tempo mais focadas, atentas e interessadas em suas investigações relacionadas à natureza.
A vivência com o meio natural desenvolve nas crianças afinidade, apreciação, zelo e respeito ao mundo à sua volta porque o reconhecem como seu ambiente de pertencimento. Tudo isso motivados pela aproximação e sensibilização possibilitadas pela natureza.