Entrevistamos o Dr. João Prats, reconhecido infectologista brasileiro para esclarecer algumas dúvidas sobre o Coronavírus.
1. Qual o contexto presente da infecção?
Atualmente, estamos na fase de transmissão comunitária em alguns estados do Brasil como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. Nesta fase, não existe mais uma preocupação com a fonte de infecção (quem passou pra quem), pois se considera que toda a população é potencialmente exposta. Outros estados do Brasil estão numa fase anterior da epidemia, a fase de casos importados (inicial) ou fase de transmissão local (2ª fase). Deste modo pode haver diferentes recomendações sobre quem é suspeito ou deve ser testado.
2. Quais as perspectivas de evolução da infecção?
Esperamos que a maior parte dos estados tenha transmissão comunitária em algum momento. Nos locais onde ele já ocorre, espera-se um aumento exponencial no número de casos. Posteriormente, atingir-se-á um platô, e por fim, ocorrerá uma queda no número de casos. Cada país é diferente, com características próprias, mas acreditamos que vai durar alguns meses. As medidas de distanciamento social e outras formas de prevenção podem achatar a curva, deixando o platô menor, com menos casos de doença ao mesmo tempo.
3. O que é caso suspeito?
Nos locais com transmissão comunitária, todos que se apresentarem com sintomas respiratórios são considerados suspeitos. Nos demais, além de apresentar os sintomas, também é necessária a caracterização de um vínculo epidemiológico. Isto é, contato com caso suspeito ou confirmado de COVID-19 ou viagem recente para uma região com casos confirmados.
4. Casos suspeitos podem frequentar a escola?
Casos suspeitos não devem freqüentar a escola, devendo permanecer em casa durante o período de sintomas da doença (onde há transmissão comunitária) ou até resultado de teste de Coronavírus (locais onde ainda não há transmissão comunitária).
5. Alunos com sintomas respiratórios podem frequentar a escola?
De modo geral, alunos com sintomas de gripe, etc, não devem frequentar a escola, especialmente nos locais onde há transmissão comunitária do vírus.
6. Alunos em contato com contaminados podem frequentar a escola?
Em regiões onde ainda não há transmissão sustentada, somente ter tido contato com caso confirmado não justifica afastamento da escola. A exceção seria um caso confirmado no domicílio, onde há contato bastante íntimo. Por exemplo, um irmão não deve frequentar a escola e deve permanecer em observação no domicílio se o outro irmão for um caso confirmado. Nos locais onde há transmissão comunitária, de modo geral as aulas são canceladas.
7. Alunos em contato com suspeitos podem frequentar a escola?
Em regiões onde ainda não há transmissão sustentada, somente ter tido contato com caso suspeito não justifica afastamento da escola, mesmo dentro de domicílio. É mais adequado aguardar a confirmação para proceder com os afastamentos. Nos locais onde há transmissão comunitária, de modo geral as aulas são canceladas.
8. Em que casos deve haver suspensão de aula?
De modo geral, somente se houver recomendação municipal/estadual. Podemos considerar suspender para uma turma em que ocorra mais de um caso ou mesmo de uma escola em que muitos casos ocorram, criteriosamente e com ciência das autoridades sanitária.
9. A escola pode, ela própria,definir que o aluno deve ficar de quarentena?
A escola, de modo geral, pode recomendar isso aos pais. Cresce o número de casos de medidas de afastamento compulsório a cada dia no Brasil, porém esta é uma questão para o departamento jurídico.
10. Suspender aula de uma única turma é possível?
Acredito que sim, conforme o tipo de turma, proximidade do contato e atividades desenvolvidas.
11. Como fazer desinfecção de ambientes? O vírus sobrevive quanto tempo?
Desinfecção do ambiente padrão é suficiente. Somente verificaria se tudo está sendo feito corretamente. OCOVID-19, ao contrario de outros coronavírus, não dura tanto tempo no ambiente. A média é de 24-48h, mas após 24h, na maioria das superfícies, a carga cai bastante e pode ser que nem seja mais suficiente para infectar alguém, especialmente com higienização das mãos.
12. Como tratar os professores de uma turma que teve aulas suspensas? Devem ser suspensos também?
De modo geral sim, se cancelarmos as aulas de uma turma com transmissão entre alunos, os professores certamente estão bastante expostos. Alguns casos podem ser individualizados conforme a intensidade do contato.
13. Em caso de suspensão das aulas, quando receber as famílias de volta e como justificar que não há mais risco?
Idealmente buscar o momento de queda dos casos, em conjunto com as recomendações das autoridades sanitárias.
14. Tenho uma mãe na escola, cujo o filho tem uma doença autoimune, ligou hoje super preocupada com as medidas que estamos tomando. Informou que o filho, a partir de segunda-feira, virá para escola de máscara. Na turma do filho, tem um aluno que vai chegar de viagem da Europa na segunda. É o caso de todos usarem a máscara?
É o caso de pedirmos aos responsáveis observações e quarentena? Temos que manter essa sala de aula com as janelas abertas? Máscara é uma péssima forma de prevenção. Janelas abertas não são a medida mais relevante .As superfícies são mais importantes.
Conheça o Dr. João Prats.
Coordenador Médico (Beneficência Portuguesa – SP), emergencista, preceptor, professor (Programa de Residência Médica em Infectologista na UNIFESP), e conceituado infectologista (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar no Hospital Atibaia) , foi contratado pela Saber para orientar as escolas nas questões referentes ao COVID-19.