A infância é um período repleto de descobertas. Nesta fase, os pequenos se desenvolvem física e mentalmente, explorando sua curiosidade e criando hipóteses. Diante das situações provenientes deste momento da vida, as crianças constantemente expõe suas perspectivas, comunicando a maneira como estão interpelando e desvendando o mundo no qual estão inseridas. “Por meio do diálogo, podemos compreender o que as crianças pensam, o que elas sabem e que perguntas estão se fazendo sobre tudo o que as cerca”, explica Luana Marra, coordenadora de série do Infantil 1 ao 2° ano.
Assim como os adultos, as falas de uma criança revelam muito sobre sua maneira de pensar. Somos carregados de cultura e vivências, então, ao interagir por meio do diálogo, ensinamos a elas os nossos costumes e estimulamos a construção de novos aprendizados. “Mais interessante do que apresentar o mundo a partir do nosso desejo, seria ajudá-las a entenderem o que desejam saber, buscar respostas para suas próprias pesquisas. Para isso há mais que se escutar do que se falar”, aponta Luana. “Se quisermos ajudá-las a entender mais sobre o mundo, basta que possamos conversar com elas sobre seus interesses e incentivá-las a buscar respostas.
A escola possui um papel importante de incentivo à comunicação, e a escuta ativa é um processo essencial para conhecer as crianças, entender contextos e então refletir sobre seu processo de aprendizagem. Reconhecer os conhecimentos prévios dos alunos e suas relações com o mundo é o ponto de partida para qualquer investimento pedagógico. Seja como objeto de conhecimento, ou como uma troca espontânea entre colegas ou professores, o diálogo ajuda a enriquecer e potencializar interações essenciais para o ensino. Por isso, aqui na Santi, são realizadas diversas situações de conversas, seja em dupla, no coletivo da classe ou com o professor, tendo o intuito de criar um espaço de importância do que é dito, de respeito ao outro e de autonomia e segurança para falar. Assim, o diálogo estimula a reflexão, a necessidade de confrontar ideias e de se posicionar diante de assuntos difíceis, contribuindo para a resolução de problemas e para o desenvolvimento moral dos pequenos. “Quando dialogo, aprendo sobre mim, sobre o outro e sobre tudo. Então, quanto mais converso, mais vou aprendendo a me colocar, a ouvir o outro, vou estabelecendo relações com o que sei e o que está sendo discutido, vou aprendendo novas coisas, inclusive a me relacionar com esse outro que é tão diferente de mim”, relata a coordenadora.
Além do diálogo na escola, é indispensável que os pequenos encontrem também em casa um espaço favorável à conversa, de forma que possam demonstrar suas opiniões sobre do que acontece no seu cotidiano, principalmente diante de uma situação tão atípica como a que estamos vivendo, em que enfrentamos mudanças radicais na forma como nos relacionamos, com o distanciamento da escola e dos amigos e com novos protocolos que passam a fazer parte da rotina familiar e social. “Elas também fazem parte de tudo isso. Mais do que isso, elas precisam ter a oportunidade de falar, sobre o que sentem, sobre seus medos, seus sentimentos em geral”, explica Luana. Porém, a coordenadora diz também que devemos sempre levar em consideração a condição das crianças para compreender a situação, poupando os pequenos de preocupações exageradas. “Deve-se falar sobre o que elas podem entender e não antecipar assuntos que possam trazer pânico, ansiedade, lembrando que são crianças e que o contexto já é desafiador para elas”.
Independente da situação, é importante que a família encontre estratégias para ouvir as crianças e demonstrar que seus pensamentos e hipóteses também são relevantes, trazendo temas e perguntas que possam ampliar os horizontes da conversa e estimular ainda mais o raciocínio e a reflexão por parte dos pequenos. Não há necessidade de um único “horário da conversa”, mas esses espaços podem ser criados naturalmente, partindo do interesse genuíno pelo que as crianças trazem. “Conversar sobre si, sobre suas experiências, fazer planos juntos. Especialmente neste momento, fazer planos sobre o que farão quando o distanciamento for flexibilizado, sobre quem desejam encontrar, sobre atividades que querem retomar… são algumas ideias”, recomenda Luana.